Fato Nº 81

O “Pugilista Mardo” Gozukutchukian foi coroado Campeão Peso Pesado do Oriente Médio em Jerusalém em 1940

A vida religiosa é imediatamente associada à rotina dos armênios na Terra Santa: a presença formal da Igreja armênia em Jerusalém pode ser rastreada ainda no século 7 dC, com a evidência de atividades que datam de séculos anteriores – mesmo para antes da própria Armênia tornar-se cristã. Na verdade, o rei mais célebre da Armênia, Tigran o Grande, brevemente estendeu seu reinado no século 1 aC até a Judéia. É claro que o cristianismo foi mais tarde o principal motivador para peregrinos – e também comerciantes – fazerem a caminhada das montanhas armênias para a Terra Santa nos séculos que se seguiram.

Há mais para a Diáspora em Jerusalém do que apenas o Patriarcado Armênio. (Confira o nosso fato sobre a Irmandade Armênia de St. James para saber mais sobre o patriarcado). O fato de Jerusalém ter um bairro armênio ao lado de bairros cristãos, muçulmanos, e judeus mostra a forma como a presença armênia faz parte integrante da história e da cultura da cidade – uma entre punhado de outras comunidades, pode-se dizer. Durante séculos, uma grande parte da população armênia incluía sacerdotes ou aqueles que estudavam para o clero, mas o comércio e artesanato nunca ficaram muito atrás. Na verdade, a existência do bairro armênio deve muito a uma governante da era das cruzadas da Terra Santa, a Rainha Melisende de Jerusalém, que governou a região no século XII. Seu pai era um nobre europeu, mas ela tinha uma mãe armênia e educação armênia em Edessa (Urfa, ou Şanlıurfa hoje).

O século XX viu grandes mudanças para os armênios em torno de Jerusalém, o genocídio trouxe milhares de refugiados. Estes indivíduos menores que os habitantes mais velhos armênios de Jerusalém – os kaghakatsis (“citadinos”, “cidadãos”) – que tinham se integrado ao longo de gerações o suficiente para terem árabe como sua primeira língua. Muitos deles tinham alcançado altos cargos tanto na administração local, bem como em uma série de missões diplomáticas dos países ocidentais. Aqueles fugindo do genocídio armênio, chamados de “zuwwar” (árabe para “convidados” ou “visitantes”), deram um impulso no número de armênios em Jerusalém, Belém, Jaffa e outras cidades e vilas, até o estabelecimento do Estado de Israel, em 1948, e também a Guerra dos Seis Dias, de 1967 – ambos os eventos que levaram à instabilidade e à emigração. Enquanto isso, uma série de instituições da comunidade foram fundadas, incluindo organizações sociais e culturais e grupos de atletismo, resultando em uma vibrante vida na diáspora. Um nome que se destacou nos esportes armênios naquela época foi Mardo Gozukutchukian, ou o “Pugilista Mardo”, que ganhou o campeonato regional em 1940.

Uma menção especial deve ser feita à tradição da cerâmica e do papel dos armênios nesse campo em Jerusalém. Os britânicos que assumiram essa área depois que o Império Otomano entrou em colapso trouxeram uma série de especialistas em cerâmica armênios em 1919 de Kütahya (no oeste da Turquia hoje), um antigo centro de fabricação de azulejos, para trabalhar na parede externa da Cúpula da Rocha – o local sagrado central de Jerusalém. Famílias se estabeleceram e continuaram a produzir azulejos e cerâmica, muitas vezes com temas de animais e plantas ou desenhos geométricos, pintados à mão em tons de azul e verde. Há também placas de rua de cerâmica na Cidade Velha de Jerusalém, da mesma forma proveniente do trabalho dos mestres artesãos armênios.

A diáspora armênia tem visto limitações dentro e em torno de Jerusalém desde a metade do século passado devido à instabilidade política na região. No entanto, para além da vida religiosa, organizações comunitárias continuam a funcionar, mesmo com uma população esgotada. As duas últimas décadas também têm visto alguma emigração de indivíduos e famílias da própria Armênia, daqueles que são parcial ou totalmente de origem judaica.


Referências e Outras Fontes

1. Bedross Der Matossian. “The Armenians of Palestine 1918-48”, Journal of Palestine Studies, Vol. XLI, No. 1, Autumn 2011, pp. 24–44
2. Jirair Tutunjian. “Queen Melisende and Her Three Sisters”, Keghart.com, December 1, 2013
3. Tzoghig Aintablian Karakashian. “Armenian Pottery and the Karakashians”, This Week in Palestine, 127, November 2008
4. Save the ArQ
5. Wikipedia: “Armenians in Israel
6. Wikipedia: “Armenian Quarter


Artigo Original


Legenda da Imagem

Amostras de cerâmica armênia em Jerusalém.


Atribuição e Fonte

Por Lantuszka (own photo) [CC-BY-SA-3.0], via Wikimedia Commons


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