Fato Nº 95

MGM iria produzir uma versão cinematográfica de Os Quarenta Dias de Musa Dagh na década de 1930

Franz Werfel não levava uma vida estável, tranquila. Mesmo porque, os tempos em que ele viveu não se prestavam a tais luxos. Nascido em 1890 em uma família judaica de língua alemã em uma Praga predominantemente cristã, Werfel viveu uma Europa que foi fundamentalmente alterada nas décadas que se seguiram. Sua vida adulta esteva atrelada a Viena, embora ele tenha vivido em outros lugares do continente, antes de acabar nos Estados Unidos.

Suas obras literárias tiveram aceitação entre os círculos públicos e artísticos, especialmente na Áustria e na Alemanha após a Primeira Guerra Mundial. Este foi o período de ascensão do Partido Nazista e do crescente antissemitismo institucionalizado. Werfel se afastou o máximo possível de sua herança – até mesmo teve um caso e depois se casou com uma socialite conhecida por seu desdém com o Judaísmo. Independentemente disso, seu trabalho escrito mais celebrado hoje aborda a experiência dos povos armênios e judeus, não por coincidência.

O Monte de Moisés – ou Musa Dagh – está localizado no extremo sul-oriental da costa mediterrânea da Turquia hoje. Ele costumava ser preenchido com um número de aldeias armênias, cujos habitantes se organizaram em 1915, usando seu terreno mais elevado para resistir às forças otomanas que se aproximavam. Durante 53 dias, entre 4.000 a 5.000 moradores de Musa Dagh lutaram, até que – observando o sinal SOS pintado em uma folha grande – navios de guerra franceses que passavam resgatassem eles. (Uma aldeia Musa Dagh, Vakif, permanece na Turquia, preenchida com os armênios locais, enquanto outro conjunto de vilarejos armênios ao redor da cidade de Kessab, do outro lado da fronteira, na Síria, foi atacada por forças que entraram pela Turquia, em março de 2014, durante a guerra civil síria, estes postos avançados são o que resta da população nativa da medieval Reino Armênio da Cilícia).

Foi em um dia de sorte que no Oriente Médio por volta de 1930 que Franz Werfel ficou cara-a-cara com os sobreviventes do Genocídio Armênio. A história deles já havia sido posta de lado, mas alguns inquéritos e algumas pesquisas inspiraram Werfel a assumir esse único episódio de 1915 e transformá-lo em um dos romances mais influentes de sua época. Os Quarenta Dias de Musa Dagh causou uma sensação, dado o contexto de seu autor e do idioma e período em que foi publicado – alemão, 1933, o ano em que Hitler chegou ao poder. Não demorou muito para que as circunstâncias dos armênios no Império Otomano fossem comparadas com a dos judeus na Europa Central e Oriental, especialmente na Alemanha, onde o livro foi proibido, e onde cópias dele foram queimadas. Outro país que desempenhou um papel ativo na supressão da obra de Franz Werfel foi a Turquia, onde, da mesma forma, o livro foi proibido e queimado – mesmo pelos armênios remanescentes de Istambul, que foram rápidos em seguir a ordem oficial como fez a comunidade judaica na Turquia. No entanto, o livro de Franz Werfel estava sendo distribuído nos guetos da Europa ocupada pelos nazistas, assim como entre os combatentes judeus na Palestina. Novos Musa Daghs estavam sendo chamados para luta contra a opressão e genocídio, ao longo de duas décadas após a resistência armênia inicial.

As maquinações turcas atravessaram o Atlântico, onde Quarenta Dias estava causando tanto rebuliço que a MGM decidiu transformá-lo em um filme épico, estrelado por Clark Gable. Disputas diplomáticas de Ancara e interferência por parte do Departamento de Estado em Washington DC até Hollywood finalmente fizeram efeito: o filme foi colocado em espera, os seus direitos caíram até que uma produção de baixo orçamento foi montada no início dos anos 80.

Embora Franz Werfel tenha morrido em 1945, sua influência se mantém viva, certamente além dos círculos armênios. Sylvester Stallone e Mel Gibson já manifestaram interesse nos últimos anos de reviver um projeto de um filme de Quarenta Dias de Musa Dagh, mas ambos cederam sob pressão turca.


Referências e Outras Fontes

1. Liel Leibovitz. “The Best Holocaust Novel Ever”, Tablet, June 5, 2012
2. Edward Minasian. Musa Dagh. Cold River Studio, 2007
3. Wikipedia: “Franz Werfel
4. Wikipedia: “The Forty Days of Musa Dagh
5. Wikipedia: “Jewish response to The Forty Days of Musa Dagh
6. Wikipedia: “Musa Dagh Resistance


Artigo Original


Legenda da Imagem

O memorial de Franz Werfel, no centro de Viena, adornado com um “Mousa Ler” armênio no topo, e a inscrição: “Em sinal de gratidão e grande respeito – o povo armênio”


Atribuição e Fonte

Por Buchhändler (Own work) [Public domain], via Wikimedia Commons


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