Fato Nº 67
A Igreja Armênia de São Gregório o Iluminador data de 1835 e foi a primeira igreja construída em Singapura
O senso de aventura e o espírito mercantil que impulsionaram os armênios da Pérsia a irem mais longe, rumo ao leste, nos séculos XVII-XVIII não chegou só até a Índia. A Igreja Armênia de São João Batista, por exemplo, ainda existe em Burma (Myanmar), embora a comunidade tenha minguado por lá (a igreja e o punhado de armênios daquele país estiveram rapidamente sob os holofotes no verão de 2014, quando o Catholicos de Todos os Armênios fez uma visita). O mesmo pode ser dito sobre a Igreja Armênia de Dhaka, em Bangladesh, construída em 1781. E há ainda evidência de comerciantes armênios em Lhasa, Tibete, por volta dos anos 1680.
Mas por que eles foram para lá? Os armênios tiveram uma presença notável no mundo do comércio e indústria de Singapura, Penang (Malásia), Java (Indonésia), Hong Kong e Japão durante os anos 1800 até a primeira metade do século XX.
A ilha da cidade-Estado de Singapura – que está estrategicamente localizada entre rotas de comércio marítimo mundiais – é particularmente conhecida por ser o local de algumas conquistas notáveis da diáspora. A primeira igreja cristã de Singapura foi construída por armênios em 1835 e consagrada no ano seguinte. Foi nomeada em homenagem a São Gregório o Iluminador, o santo padroeiro armênio, e permanece ainda hoje como um marco nacional. O famoso Raffles Hotel de Singapura, por sua vez, era propriedade de armênios e foi por eles gerenciado. Os irmãos Sarkis e família possuíam uma rede de hotéis de alto-padrão por todo o sudeste asiático. O jornal anglófono de Singapura de maior circulação, The Straits Times, foi criado por Catchick Moses em 1845, enquanto a flor nacional do país, a Vanda “Miss Joaquim”, ou orquídea de Singapura, é um híbrido desenvolvido e batizado em homenagem a uma mulher armênia, Agnes Joaquim.
A Igreja Armênia de Singapura; a construção é mais inspirada nas influências coloniais da época do que na tradicional arquitetura eclesiástica armênia.
Por Smuconlaw. (Own work.) [CC-BY-SA-3.0], via Wikimedia Commons
Uma figura armênia proeminente no Extremo Oriente do século XIX foi Sir Paul Chater. Originalmente de Calcutá, Chater foi para Hong Kong, onde se engajou no mercado financeiro, na recuperação de terrenos e no desenvolvimento, bem como em outros empreendimentos e interesses. Ele foi responsável por uma grande parte do desenvolvimento de Hong King na virada do século. Os lugares e instituições batizados em sua homenagem, bem como as inúmeras honras que recebeu, comprovam o seu papel na vida da cidade, o que inclui várias obras públicas e projetos civis. Além de ter servido no Conselho Executivo de Hong Kong por 30 anos, Chater também contribuiu com a vida comunitária armênia em Calcutá e ainda fez uma grande doação à sua antiga escola, La Martiniere, a qual ainda o celebra como benfeitor nas orações. (Clique aqui para ver uma imagem de Sir Paul Chater).
Não há presença armênia expressiva na China até o interesse do Império Russo em expandir as estradas de ferro pelo país na década de 1890. Entretanto, um certo Hovhannes Ghazarian (Johannes Lassar) esteve envolvido na tradução da Bíblia para o chinês no início do século XIX, publicando o Velho e o Novo Testamento nessa língua entre 1815 e 1822. A Igreja Armênia de Harbin, no norte do país, construída nos anos 1920, foi vítima das reformas da Revolução Cultural chinesa sendo demolida em 1966. Os associados do Clube Armênio de Xangai também diminuíram nos anos 1950 como consequência do estabelecimento do comunismo. Nos últimos anos, novos imigrantes armênios têm participado do crescimento econômico chinês, vindos de toda parte do mundo. A comunidade ChinaHay, como é chamada, foi transformada em uma associação formal e conta com um Centro Armênio inaugurado em Hong Kong em 2013.
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Khatchig Mouradian, que é atualmente o bolsista da China do Departamento de Comunidades Armênias da Fundação Calouste Gulbenkian acrescentou: “um aspecto pouco estudado da presença armênia na China é as dezenas de sobreviventes do genocídio armênio que chegaram por lá. Depois de terem fugido do Império Otomano, os refugiados enfrentaram a guerra civil e a revolução na Rússia. Eles seguiram de trem até Vladivostok e então foram para Harbin e Xangai, onde a presença armênia vinha crescendo desde o início do século. Uma vez na China, os sobreviventes receberam apoio de armênios ricos e missionários que estavam por lá. Em pouco tempo, eles encontraram trabalho em negócios de armênios e russos, trabalharam para o governo ou na companhia ferroviária. Alguns, enfim, abriram seus próprios negócios. Por volta da década de 1950, esses sobreviventes, assim como a maior parte dos armênios da China deixaram o país rumo às Américas via Japão ou foram repatriados para a Armênia Soviética.”
A equipe do projeto “100 anos, 100 fatos” gostaria de agradecer o Sr. Mouradian por seu feedback. Quaisquer comentários, sugestões, reclamações, dúvidas ou elogios são bem-vindos e podem ser feitos pelo email 100years100facts@gmail.com ou pelas redes sociais.
Para outras informações sobre a bolsa chinesa da Fundação Gulbenkian, acesse: http://www.gulbenkian.pt/inst/en/Activities/ArmenianCommunities?a=5077.
Para outras informações sobre Khatchig Mouradian e sua pesquisa sobre a China, acesse http://www.gulbenkian.pt/inst/en/Activities/ArmenianCommunities?a=5075.
Para uma reportagem recente da Armenian Weekly sobre a reunião dos armênios da China, acesse http://armenianweekly.com/2014/12/15/china/.
Referências e Outras Fontes
1. Armenian Apostolic Church of St. Gregory the Illuminator Singapore
2. Amassia Publishing. “Respected Citizens: the History of Armenians in Singapore and Malaysia”
3. Alastair Lawson. “The mission of Dhaka’s last Armenian”, BBC News, January 10, 2003
4. H. E. Richardson, “Armenians in India and Tibet”, Journal of the Tibet Society, Volume 1, 1981
5. Chater Genealogy
Armenians in India – Behind the Scenes Forgotten History
6. “Sir Paul Chater and Armenians in Hong Kong”, Civilnet, May 27, 2013
7. La Martiniere for Boys. “Sir Paul Chater: Our Benefactor”
8. Andrew Whitehead. “The last Armenians of Myanmar”, BBC, August 27, 2014
9. “The preacher refusing to give up the keys to a Yangon church”, BBC News, October 7, 2014
10. Chasing Chinthes
11. Nadia Wright. “Fallen but Never Forgotten: Armenian Victims of the Pacific War”, The Armenian Weekly, July 9, 2014
12. ChinaHay
ChinaHay: History
13. Artsvi Bakhchinyan. “Armenian origins of the first Chinese Bible”, gbtimes, January 6, 2013
14. Han T. Siem. “The Armenian Minority in the Dutch East Indies”, Hetq, March 7, 2012
15. Wikipedia: “Armenians in Singapore”
16. Wikipedia: “Armenians in China”
17. Wikipedia: “Armenians in Burma”
18. Wikipedia: “Paul Chater”
Artigo Original
Legenda da Imagem
Placa para a Rua Armênia, na histórica George Town, capital de Penang, na Malásia.
Atribuição e Fonte
Por Gryffindor (Own work) [GFDL, CC-BY-SA-3.0 or CC-BY-2.5], via Wikimedia Commons