Fato Nº 60
O 1º Primeiro-Ministro na história moderna do Egito foi Nubar Nubarian
O Mundo Árabe é um vizinho próximo da Armênia Histórica. Há registros longínquos de contatos entre os povos povos, para além da época do Reino Armênio da Cilícia, na costa sudeste da atual Turquia, durante os séculos XI e XIV. Ao longo de centenas de anos, mercadores e peregrinos armênios chegaram, estabeleceram comércio e igrejas no que hoje é a Síria, Líbano e Egito. Mais recentemente, o genocídio armênio fez com que esses países fossem o primeiro lar para centenas de milhares de refugiados.
A antiga cidade de Aleppo no norte da Síria tem um antigo Bairro Armênio que data, no mínimo, do século XVII, enquanto a Igreja da Santa Mãe de Deus foi construída cerca de dois séculos antes. Aleppo (ou Haleb) é frenquentemente chamada de a “colônia mãe” – o centro original da diáspora – graças a sua proximidade com o que viria a ser a fronteira síria-turca. A cidade foi a primeira parada para muitos sobreviventes dos massacres e deportações no sul e leste da Anatólia em 1915. Aleppo se tornou um centro ativo e vibrante da vida armênia por si só durante o século XX e início do XXI ao lado da capital Damasco e de outras comunidades maiores e menores espalhadas por toda a Síria, incluindo assentamentos muito antigos que datam dos tempos da Cilícia no noroeste do país (como Kessab e a região do seu entorno). A Síria é também o único país do mundo a ter um museu e um memorial dedicado ao genocídio armênio que se aproxima em pungência do seu congênere na Armênia – o monumento em Deir-Zor, no nordeste, marcando o ponto de chegada e de descanso final das marchas da morte que atravessaram o deserto sírio. Apenas recentemente, como consequência dos distúrbios civis que acometeram a Siria, a população armênia encolheu e teve que limitar suas atividades comunitárias, conforme foi destacado pela imprensa armênia durante 2014 na cobertura dos eventos em Kessab e Deir-Zor.
O vizinho Líbano pode reivindicar ter sido a capital da diáspora armênia até a Guerra Civil dos anos 1970-80. Com uma grande população armênia, liberdade de expressão e educação que não encontram paralelo em nenhum outro lugar, Beirute se tornou o centro de inúmeras organizações armênias cujas influências alcançaram toda a diáspora, incluindo as igrejas (o Catholicós da Grande Casa da Cilícia está localizado em Antelias, um subúrbio de Beirute – confira esse fato clicando aqui), escolas (incluindo a única universidade da diáspora – confira o fato sobre a Rocket Society que foi criada lá nos anos 1960 clicando aqui), editoras, grupos teatrais, esportivos e escoteiros. Particularmente, a vida literária armênia floresceu em Beirute por muitas décadas e a cidade ainda fomenta alguns jornais e outras publicações em armênio ocidental. O subúrbio beirutense de Bourdj-Hammoud poderia ter sido definido como uma nova e reinventada Armênia durante duas ou três gerações. Os armênios do Líbano hoje ainda compõem um significativo segmento da sociedade daquele país, tendo um papel ativo na política, sociedade, artes, cultura, economia e indústria. Muitos armênios da “segunda diáspora” no Oriente têm suas raízes no Líbano e também na Síria.
E no Egito também. O mais populoso dos países árabes tem sido a morada para alguns influentes armênios. De fato, armênios islamizados obtiveram posições de liderança no Egito em séculos passados, enquanto, nos tempos modernos, Nubar Nubarian foi escolhido como o 1º Primeiro Ministro do país em 1878. Seu filho, Boghos Nubar, foi crucial tanto na criação da União Geral Armênia de Beneficência (UGAB) no Cairo, em 1906 – uma das mais influentes organizações da comunidade armênia na diáspora – bem como em negociações em prol dos armênios no pós-Primeira Guerra Mundial. Atualmente, ainda existe comunidade armênia em Cairo e Alexandria, não obstante as recentes instabilidades no Egito terem causado a sua redução.
Em vários lugares do Mundo Árabe, nos últimos 50 anos ou mais, problemas regionais têm apresentado um cenário menos favorável para a Diáspora na região. A presença armênia na Jordânia é composta majoritariamente de grupos pequenos, quase todos descendentes dos sobreviventes do genocídio, ainda que a comunidade de Amman esteja conectada com os velhos armênios de Jerusalém nos tempos antigos. Uma parte da história dos armênios do Iraque, do mesmo modo, remete às antigas Assíria e Babilônia, mas a maior parte da comunidade por lá, que girava em torno de igrejas e escolas estabelecidas após o genocídio, tem sofrido com conflitos da última década. Enquanto isso, é perceptível uma presença armênia em cidades do Golfo (Kuwait, Dubai, Sharjah, Abu Dhabi, Doha, etc.) de umas décadas para cá, criando uma nova “segunda diáspora” Mundo Árabe afora.
Referências e Outras Fontes
1. Joe Parkinson. “Christian Armenians Flee Syria”, The Wall Street Journal, December 4, 2012, 2 min. 46 s.
2. Chrétiens Orientaux. Bourj Hammoud: la petite Arménie. Jean-Claude Salou, Thomas Wallut/France Télévisions, 2013. 30 min. (in French)
3. Nanore Barsoumian. “Amid Turmoil, Armenians of Egypt Remain on Sidelines”, The Armenian Weekly, August 25, 2013
4. Armenian General Benevolent Union. “Our History”
5. RuptlyTV. “Syria: Armenians return to burned out church in shattered Kassab”, 1 minute 30 seconds
6. Azad-Hye: Middle East Armenian Portal
7. Wikipedia: “Armenians in Syria”
8. Wikipedia: “Armenians in Lebanon”
9. Wikipedia: “Armenians in Egypt”
10. Wikipedia: “Armenians in Jordan”
11. Wikipedia: “Armenians in Iraq”
Artigo Original
Legenda da Imagem
Uma fotografia da Igreja Evangélica Armênia em Kessab, no canto noroeste da Síria, atualmente em ruínas; um resquício da comunidade armênia da Cilícia, Kessab e seus arredores, que por séculos, são a casa de armênios, a maioria dos quais tiveram de fugir durante o verão de 2014, quando a área foi atacada.
Atribuição e Fonte
Kevorkmail at en.wikipedia [CC-BY-3.0], via Wikimedia Commons