Fato Nº 69

Glossário medieval do Iêmen inclui o armênio entre seus seis idiomas

É correto afirmar que não damos muita atenção atualmente para o que acontecia no Iêmen medieval, que correspondia ao que é hoje o sul da Arábia Saudita, banhado pelo Mar Vermelho. A dinastia Rasulid – de origem turca – se estabeleceu no Iêmen no final dos anos 1100 como vassala dos Ayyubid e assumiu o controle da região no início do século XIII (Os Ayyubids eram originalmente do vizinho Egito. Essa dinastia foi fundada por Saladino, famoso pelas batalhas durante as Cruzadas. Ele tinha origem curda com laços familiares em Dvin, na Armênia).

Os séculos XIII-XIV assistiram às grandes conquistas mongóis, que se estendiam da China à Europa, bem como ao fim do Reino Armênio da Cilícia. Era um período de muita atividade comercial entre o Ocidente e o Oriente. Em alguns casos, essas atividades não seriam repetidas até que Portugal e Holanda circundassem a África e achassem as rotas para a Índia e o Extremo Oriente alguns séculos mais tarde.

Essa atmosfera cosmopolita pode ser percebida durante o patronado do sexto Rei Rasulid do Iêmen, al-Malik al-Afdal al-Abbas, que governou de 1363 a 1377. Embora não fosse raro a existência de dicionários dos principais idiomas da região – notadamente árabe, persa e turco – um glossário de seis línguas era um empreendimento bem incomum. O Hexaglota Rasulid, como é conhecido atualmente, lista mais de mil palavras em árabe, persa, turco, mongol, grego e armênio.

A descoberta desse documento foi feita nos anos 1960 e foram precisos mais de 30 anos para estuda-lo, traduzi-lo, e publicá-lo nos moldes dos atuais trabalhos acadêmicos. O texto é, todavia, um verdadeiro tratado medieval e não um livro para diplomatas ou mercadores, mas um estudo de diletantismo intelectual. O rei (ou seus escribas) compilaram alguns vocabulários práticos, calendários, medidas, itens domésticos, vestuário, animais, plantas, armas, doenças, minerais, termos religiosos, etc., comparando palavras de diferentes idiomas por meio de colunas.

É importante mencionar que o armênio era considerado um idioma importante o suficiente na região do Oriente Próximo naquela época. Também é digno de nota que o Hexaglota Rasulid foi escrito em caracteres árabes – é raro encontrar palavras armênias transcritas em árabe (e também palavras gregas). O sistema de transliteração indica que o dialeto armênio da Cilícia, semelhante com o que é o armênio ocidental atualmente, foi o que chegou ao Iêmen no século XIV.


Referências e Outras Fontes

1. Peter B. Golden (ed.). The King’s Dictionary. The Rasulid Hexaglot: Fourteenth Century Vocabularies in Arabic, Persian, Turkic, Greek, Armenian and Mongol (Handbook of Oriental Studies). Brill, 2000
2. Peter B. Golden. “Rasulid Hexaglot”, Encyclopædia Iranica. 2009
3. Barry Hoberman. “The King’s Dictionary”, Saudi Aramco World, March/April 1982, pp. 28-31
4. Wikipedia: “Saladin


Artigo Original


Legenda da Imagem

Uma moeda do período Rasulid, do Iêmen do século XIV


Atribuição e Fonte

Por PHGCOM (Own photograph at the British Museum) [Public domain], via Wikimedia Commons


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