Fato Nº 56
Parte da Praça Taksim, em Istambul, costumava ser um cemitério armênio
Local de imensos protestos contra o governo no verão de 2013, a Praça Taksim é um ponto central na parte europeia de Istambul. Ela está entre uma feira ao ar livre, passeios turísticos, e uma rua de entretenimento, a avenida Istiklal, além de acolher numerosos hotéis e restaurantes ao seu redor. Um monumento de destaque para a fundação da República Turca é encontrado em uma das extremidades da Praça Taksim, de frente À avenida Istiklal.
Seguindo protestos populares em espaços públicos como no Cairo, Nova York, e em outros lugares que tinham sido objeto de grande cobertura na mídia internacional em anos anteriores, os planos do governo de demolir e desenvolver parte da área verde em torno de Taksim Square, conhecida como Gezi park, motivou o ativismo ambiental no final de maio de 2013. Ele logo se transformou em expressões gerais de sentimento contra uma ampla gama de políticas governamentais. Diversos protestos pacíficos e manifestações ocorreram espalhadas pelo país, com relatos de 11 pessoas mortas e milhares de feridos e detidos após a repressão por parte das autoridades ao movimento “Occupy Gezi Park”.
Mas a Praça Taksim só começou a se tornar um centro de cruzamento das principais vias da maior cidade da Turquia em 1930. Por quase 400 anos, o local fez parte do maior cemitério cristão de Constantinopla: o Cemitério Armênio Pangalti. Segundo a história, um terreno havia sido traçado para envenenar o célebre sultão otomano do século XVI, Suleyman, o Magnífico, mas seu chefe armênio, Manuk Karaseferyan, não levou adiante o plano e, ao invés, relatou os conspiradores. Como consequência, foi-lhe concedida uma benção – uma área para os armênios para enterrar seus mortos.
Além do lugares de descanso final de muitas gerações de armênios desde 1551, o Cemitério Armênio Pangalti também abrigou um monumento às vítimas do Genocídio Armênio, erguido em 1919 (Confira a imagem que acompanha o nosso primeiro fato para ver como era). Nem os túmulos, nem o memorial sobreviveu à reconstrução urbana nas décadas que se seguiram. No entanto, 13 lápides armênias que foram descobertas durante os trabalhos de escavação em julho de 2013, testemunham a finalidade passada dessa área.
Os protestos, eventualmente, arruinaram os planos de desenvolvimento da área – não sem a pressão contínua do governo turco. O recentemente nomeado primeiro-ministro Ahmet Davutoglu chegou ao ponto de chamá-lo de “o quadrado mais feio do mundo”, especialmente em comparação com outros espaços públicos bem conhecidos em cidades como Veneza, na Itália ou Isfahan no Irã. Davutoglu também se referiu ao ex-cemitério armênio, bem como a um outro protesto violento que aconteceu ali em 1977, durante o qual mais de 30 pessoas foram mortas.
O Genocídio Armênio pode ter resultado de forma mais imediata no massacre de indivíduos e de famílias ou a sua deportação, mas também envolveu a aquisição de bens e empresas, terras e propriedades. Essa prática continuou até os anos da República Turca. Grupos armênios conseguiram trazer à luz os pedaços de propriedade que foram confiscados no século XX – como aqueles em Istambul listados em um estudo da Fundação Hrant Dink – alguns dos quais foram devolvidos após a ações legais nos últimos anos. Novas leis só se aplicam às propriedades confiscadas a partir de 1936, portanto não seria realista esperar que qualquer parte da Praça Taksim seja revertida oficialmente ao seu antigo uso tão cedo.
Referências e Outras Fontes
1. Emily Greenhouse. “The Armenian Past of Taksim Square”, The New Yorker, June 28, 2013
2. Hrant Dink Foundation. 2012 Declaration: The Seized Properties of Armenian Foundations In Istanbul
Hrant Dink Vakfı. 2012 Beyannamesi. İstanbul Ermeni Vakiflarinin El Konan Mülkleri
3. “Taksim‘de ortaya çıkan mezar taşlarında ne yazıyor?”, Agos, 12 Temmuz 2013 (in Turkish)
4. İsmet Berkan, “Taksim is ‘world’s ugliest square,’ Turkish PM says”, Hürriyet Daily News, October 20, 2014
5. Wikipedia: “Taksim Square”
6. Wikipedia: “Taksim Gezi Park”
Artigo Original
Legenda da Imagem
Um mapa detalhado de parte de Constantinopla que data de 1922, incluindo o “Ermeni Mezarlighi” entre “Pangalti” e “Taxim”, em uma das extremidades da “Grand rue de Pera” – atual Avenida Istiklal.
Atribuição e Fonte
[Public domain], via Wikimedia Commons